Exames Complementares – Pedir é fácil, já interpretá-los direito…
Quando um exame é solicitado, habitualmente os laboratórios mandam junto aos resultados as referências de “normalidade”, ou seja, os valores “normais” ou mesmo “aceitáveis” para cada exame, visando “auxiliar” o trabalho de quem vai interpretar o exame. No entanto, isso pode, na verdade, acabar atrapalhando os menos atentos, desatualizados ou simplesmente despreparados. Vamos ver alguns motivos:
- Os valores apresentados às vezes têm intervalos “aceitáveis” grandes demais, com valores máximos até mais que 1000% dos valores mínimos!
- As referências “normais” muitas vezes variam de acordo com o quadro clínico de cada paciente – desta forma, o valor adequado para um paciente pode definitivamente não ser o mesmo para outro.
- O resultado de um exame frequentemente altera os parâmetros para outros, novamente de acordo com cada caso em particular.
- Dieta, sono, jejum, uso de medicamentos/suplementos, exercícios físicos, dia/noite anterior (à realização dos exames) e diversos outros fatores alteram os resultados e confiabilidade/parâmetros.
- Vários laboratórios ainda apresentam valores de referência desatualizados – por exemplo, o valor aceitável para TSH (hormônio liberado pela hipófise para estimular a tireoide) já há anos tem indicação de ser menor que 3 microgramas/ml, mas ainda aparece escrito constantemente como “normal” até 5!
Vejamos agora alguns exemplos de como parâmetros “engessados”, amplos demais, desatualizados ou mesmo equivocados (conforme escritos em laudos de alguns laboratórios) podem gerar confusão e, assim, prejudicar o paciente:
🟢 DHEA (importante hormônio que tem centenas de ações próprias e é precursor, direto ou indireto, de outros importantes como testosterona e estradiol.
Para a sua avaliação, é mais indicada a dosagem da sua forma mais estável, o SDHEA (sulfato de dehidroepiandrosterona), cujo valor de normalidade para mulheres é de 34 a 430. Será mesmo, então, que tanto alguém com dosagem de 35 quanto alguém com 429 estão tão “normais”? É claro que não e, particularmente e no geral, não julgo valores menores que 200 como sequer aceitáveis.
🟢 Ferritina (proteína de “armazenagem” do ferro; se baixa, pode significar principalmente carência de ferro, mas também baixa quantidade de proteínas no organismo ou mesmo problemas hepáticos)
Para homens, seu valor de referência está entre 22 a 322. Não é este um intervalo grande demais de “normalidade”?
🟢 Ácido Fólico (vitamina fundamental à vida, que tem muitas funções, como, por exemplo, atuar na síntese de proteínas, na multiplicação celular, na reconstituição dos tecidos e mesmo na prevenção de anemias)
Para ambos os sexos, seu valor “normal” está entre 3 e 17 ng/ml. O curioso é que a maioria dos pacientes que atendo, quando referem sentir-se bem, está com valores acima do máximo aqui apresentado.
Por isso, repito o conselho já dado anteriormente: escolha bem os profissionais que vão cuidar da sua saúde, pois ter registro em um conselho profissional não necessariamente indica proficiência ou experiência na sua área de atuação. Dicas para ajudar nesta escolha no artigo já publicado anteriormente: https://icaro.med.br/alguns-conselhos-para-quando-voce-resolver-cuidar-da-sua-saude/