Hoje em dia, a maioria de nós recorre à internet para pesquisar qualquer assunto de interesse: do Misticismo à Ciência, da Razão à Emoção, do Concreto ao Abstrato. Tudo é “jogado no Google” para adquirirmos mais informações sobre o tema. Mas surge uma pergunta: o que você lê é confiável? Em outras palavras, você sabe avaliar a qualidade da informação que acessa, para saber se deve acreditar nela ou não?
O objetivo deste breve artigo não é ensinar ninguém a criticar uma matéria jornalística, mas sim “abrir os olhos” de quem usa o que aprende na internet em “benefício” próprio e dos seus. Dependendo da fonte de um conhecimento, a aplicação dele na sua vida pode até fazer mal para a sua saúde. Um bom exemplo disto é a matéria abaixo, que peço que você leia antes de continuar (reproduzida ao final deste, com os devidos créditos): http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/872309-faltam-provas-de-que-antioxidante-previna-envelhecimento.shtml
O site é habitualmente muito confiável, fonte de conhecimento útil e atualizado em saúde. Mas neste artigo, como aborda de forma inverossímil áreas nas quais atuo diretamente, reservo-me ao direito de algumas “réplicas”:
Há inúmeros artigos demonstrando que o uso de antioxidantes ajuda a retardar o envelhecimento, embora nenhum deles tenha sido citado; prevenir o envelhecimento é, de fato, impossível, visto que se trata de um processo natural inerente a todo organismo vivo. Entretanto, conforme comprovado por centenas de estudos, os antioxidantes contribuem significativamente para desacelerar este processo, reduzindo sua velocidade e os danos a ele associados;
Boa parte dos conceitos de Nutrologia e Nutrição Funcional, áreas vanguardistas e consideravelmente superiores à Nutrição “convencional”, baseia-se em milhares de evidências que demonstram como os alimentos, através de seu conteúdo em diversas substâncias, possuem propriedades capazes de diminuir o risco de ocorrência ou agravamento de diversos problemas de saúde;
Por uma questão de lógica, um organismo em equilíbrio apresenta uma imunidade robusta e mecanismos de inflamação mais “sob controle”, o que significa que está menos propenso a desenvolver um câncer, considerando que inflamação e distúrbios imunológicos são atualmente reconhecidos como os principais fatores causadores de câncer. Além disso, a eficácia dos antioxidantes em manter e recuperar esse equilíbrio é tão significativa que praticamente todos os organismos vivos produzem várias substâncias com propriedades antioxidantes;
As doses diárias de antioxidantes a serem administradas, seja através dos alimentos ou por suplementação, variam de paciente para paciente, embora existam parâmetros estabelecidos (dosagens sugeridas por milhares de estudos em todo o mundo) aplicáveis a todos. Essa regra é válida para toda medicação: por exemplo, um paciente hipertenso pode responder bem a 5 mg diários de enalapril, enquanto outro pode necessitar de mais de 20 mg para obter o controle adequado da pressão arterial; contudo, isso não compromete a credibilidade do enalapril como anti-hipertensivo.
O excesso de qualquer coisa faz mal, o que não é novidade para ninguém. Um exemplo simples, mas ilustrativo: o paracetamol é amplamente utilizado e eficaz no tratamento de dores de cabeça, geralmente em doses de 500 a 750 mg para adultos. No entanto, existem centenas de efeitos colaterais e reações indesejáveis registrados, em adultos ao redor do mundo, com estas doses. Ou seja, se cada organismo humano é único e apenas uma minoria apresenta efeitos adversos com a dose mais comum de um determinado medicamento ou suplemento, isso torna o produto condenável, recomendando-se a proibição do seu uso? Não seria mais apropriado que cada paciente recebesse um tratamento individualizado, atento ao seu caso clínico e características particulares?
Nenhum antioxidante deve ser administrado isoladamente, especialmente em altas doses – uma recomendação bem conhecida por todos os profissionais que estudam e trabalham eficientemente com antioxidantes. Isso ocorre porque os antioxidantes atuam em conjunto, com um “ajudando e recuperando” o outro em suas funções;
A produção de radicais livres é uma das estratégias normalmente utilizadas pelo organismo para combater infecções. O problema surge quando a produção “endógena” destes radicais está excessiva (devido a estresse, hábitos de vida inadequados, exposição solar excessiva, etc.) e quando a entrada de radicais livres no organismo também está elevada (causada por ar poluído, alimentos contaminados, alimentação de má qualidade, fumo, etilismo, excesso de estimulantes, etc. – fatores que geram excesso de radicais livres e ainda comprometem os mecanismos naturais do organismo de neutralizá-los). Se o organismo não consegue neutralizar os radicais livres internamente, estes atacarão, inflamarão, enfraquecerão e causarão doenças, com efeitos fora de controle e muito além dos originalmente “benéficos” de combate a infecções. Em outras palavras, mais uma vez, é o excesso que causa problemas, e muitos estudos comprovam não só os danos ocasionados pelos radicais livres, mas também que a maioria de nós, hoje em dia, vive com um excesso de fatores que aumentam sua quantidade. Só não vê quem não quer.
Cada vez mais médicos, nutricionistas, farmacêuticos e profissionais de educação física, alinhados a muitos artigos, concordam que o estilo de vida atual não é tão saudável quanto deveria, resultando na maioria dos casos em mais radicais livres do que o organismo humano normalmente tem capacidade de combater sozinho, mesmo com uma boa alimentação. Isso torna a suplementação de antioxidantes (inclusive com reforços bem orientados na alimentação) uma opção terapêutica cada vez mais considerada e utilizada, geralmente com bons resultados. Embora os resultados variem de um paciente para outro, as evidências são suficientes para que possamos nos valer delas em benefício do ser humano.
Para concluir este artigo, proponho uma reflexão ao leitor: se a antioxidação (neutralização dos radicais livres) não contribuísse para o tratamento de inflamações, danos às células/tecidos, tumores/infecções e na promoção da longevidade (entre várias outras áreas da saúde humana), ela não estaria entre as áreas mais estudadas da atualidade – e com resultados bastante promissores. Vale a pena refletir sobre isso.