A ciência não explica tudo o que existe: peça para o melhor cientista do mundo explicar Deus (se ele não acreditar, questione de onde vem tudo e quem comanda a mecânica universal do funcionamento das coisas), o amor de mãe, as alterações na molécula da água mediante os padrões energéticos a que é submetida, pressentimentos, espíritos, etc. Você verá como ele pode se enrolar e acabar por dizer que “nada disto é ciência”. Ou seja, muito do que nos cerca simplesmente foge da “necessidade” do crivo da ciência, mas nem por isso perde sua utilidade.
Não explica porque:
✅ Nem tudo é explicável pelo conhecimento científico atual, que pode (e deve mesmo) estar atrasado demais para compreender vários fenômenos. Historicamente, o que foi considerado como “verdades absolutas” em uma época foram vistas como erradas e até absurdas décadas ou séculos após, quando o conhecimento científico evolui, amadurece e retifica o que é vigente.
✅ Interesses econômicos fazem com que muitos desejem que tudo fique como está. Por exemplo, quem investiu uma fortuna em um mamógrafo não quer que a confiabilidade e adequação da mamografia estejam em cheque. E a indústria do petróleo realmente quer que aumente a pesquisa, desenvolvimento e uso de combustíveis alternativos? Quanto a estudos científicos, será que o que “não dá dinheiro” será tão extensamente pesquisado, financiado e divulgado, de maneira confiável, quanto o que dá? Há mais pesquisas sobre hábitos saudáveis de vida ou remédios para tratar doenças? Sobre prevenção, cura ou tratamento? Um paciente curado deixa de ser cliente da Indústria da Doença. Isso sem contar os estudos não confiáveis, com resultados manipulados ou divulgados de forma a induzir a conclusões específicas, conflitos de interesses, etc.
✅ A “segurança” do “porto seguro” que o tradicional provê: quem opta por simplesmente aceitar e propagar o tradicional como ele é, sem questionar, sempre encontra uma maioria assim e acaba sentindo-se confortável em “ser aceito” e não ser atacado. Ademais, se as coisas não evoluírem, quem fica no “tradicional” experimenta a comodidade de poder continuar usando na sua teoria e prática diária o que aprendeu na faculdade, “sem tirar nem por” (afinal, estudar, atualizar e, por isso, mudar “pra quê”? Dá trabalho) por décadas.
✅ Ambientes multifatoriais: a grande maioria dos estudos tira conclusões acerca de situações muito específicas que raramente podem ser reproduzidas nos seres humanos em sua vida diária, submetida a estresse, fatores externos múltiplos, hábitos de vida, distúrbios e doenças preexistentes. Por exemplo, um estudo que diz que vitamina E é perigosa para X e “não funciona” em Y raramente leva em consideração o status nutricional preexistente dos envolvidos, como é a alimentação de cada um, o equilíbrio com demais vitaminas e antioxidantes, o nível de estresse a que cada um foi submetido (sim, isso afeta muito o consumo de reservas, inclusive vitaminas), que vitamina E foi utilizada (há várias formas, com diferenças em algumas das suas ações e interações).
✅ Se a ciência atual parece que só acredita no que tem “evidências comprovando”, questiono-me sobre o valor da experiência acumulada. Na Medicina, fala-se muito em Medicina Baseada em Evidências, mas curiosamente, nesta, valoriza-se muito pouco a experiência prática acumulada ou a existência até de milhares de casos de sucesso de algo, se não houver “estudos duplo-cegos randomizados placebo controlados” abençoados, indexados e atestados, etc. Por exemplo, se uma substância milenarmente utilizada para algo, com sucesso, não tiver estudos “novos” comprovando o que já se sabe, perde o status de útil e vira misticismo? Não mais útil? Vivemos o paradoxo de uma ciência que parece querer explicar tudo, mas é cada vez mais excludente com o que lhe contraria. Seria problema de autoestima ou só mera tentativa de esconder o básico mesmo (que ciência não explica tudo em essência, pelo menos não nos moldes atuais)? O grande Dr. Alexandre Feldman discorre bem sobre isto aqui: http://www.enxaqueca.com.br/blog/bom-senso-versus-medicina-baseada-em-evidencias/
Em resumo, a questão parece-me, no fundo, mais uma de bom senso mesmo: nossa aplicação da Ciência atual deveria ser menos arrogante e entender o óbvio, que ainda não explica tudo, mas que se aprenda a ter humildade (também para encarar isso!) para evoluir constantemente (aceitando mais e repelindo menos, aprimorando suas próprias falhas) e incorporar de verdade este status necessário de “constante evolução”. Talvez algum dia consiga explicar. E que, se nem tudo parece ter evidências, talvez o problema esteja no que é considerado e aceito como evidência e não na falta em si – aliás, quem estipulou o que é aceitável como evidência? E serão os responsáveis por isso totalmente confiáveis, atualizados e livres de preconceitos, com visão de futuro e da necessidade constante de evolução? Espero que sim… Pelo bem da ciência e de todos nós, que dependemos dela. Até lá, talvez, só talvez, nem tudo que seja útil será também considerado científico. Mas continuará tendo valor. Aceita quem quer, quando o tempo e a prática atestam.
Aviso importante (antes que comece o mimimi de alguns): Não sou contra confiar em estudos científicos, em evidências sólidas para basear a maior parte da prática clínica, e faço isso corriqueiramente na maioria do que posto e utilizo/indico em consultório. Recomendo que o máximo possível da nossa prática em saúde seja baseado em evidências. Sou contra o abuso, que detalhei bem e claramente no texto acima.