Escrito por Icaro Alves Alcântara
Caso clínico comum
“Uma paciente desejando emagrecer procura por auxílio médico. Após uma consulta brevíssima, de menos de 10 minutos, recebe prescrição de fórmula contendo Anfepramona ou Femproporex, associado a diazepam, fluoxetina, tiratricol… Mal recebe orientações sobre a medicação, de dieta saudável, beber água direito, fazer exercício físico regular… Manda manipular a fórmula e começa a perder peso rapidamente mas também começa a sentir cansaço, desânimo e sonolência, alternando com grande ansiedade, palpitações, diarréia/constipação, dor no estômago… Atinge o peso desejado mas não se sente muito bem e, em breve, recupera este peso ou até ganha um pouco mais do que tinha inicialmente. Decide procurar novamente por auxílio médico… E o ciclo se repete.”
Esta não é uma história incomum. Nem fictícia. Acontece diariamente e repetidas vezes em todo o mundo. A busca pela forma perfeita, de forma rápida e com o mínimo possível de esforço ou sacrifícios é incessante e parece não reconhecer os limites entre o possível e o absurdo, nocivo e por vezes até fatal.
Reconheçamos, pois, os erros cometidos nesta história.
Erro 1: Ajuda inadequada
Multidisciplinaridades: Todo paciente que deseje emagrecer deve procurar SIM por orientação médica mas não só esta. O apoio nutricional é fundamental uma vez que uma dieta adequada constitui-se em um dos principais pilares não só da perda mas da manutenção do peso ideal; Adicionalmente é desejável acompanhamento por profissional de educação física capacitado, de forma a maximizar os resultados dos tratamentos;
Erro 2: Orientações erradas
Avaliação completa: Não é possivel que um profissional de saúde, em tão pouco tempo, consiga conceber imagem confiável e completa das necessidades do seu paciente. Emagrecimento pode parecer algo simples; e o é; já emagrecimento saudável, sem repercussões danosas para o paciente, requer paciência, detalhismo; conhecer o indivíduo. Como saber quem é seu cliente, seus hábitos de vida, as doenças que já teve em si e sua família, seus medicamentos e tratamentos… Em 10 minutos? Desta forma, aumenta a chance de pareceres/diagnósticos errados que, na maioria das vezes, levarão a tratamentos errados; inadequados e potencialmente danosos a quem os segue;
Erro 3: Pressa
Velocidade dos Resultados: Quanto mais rápido se quer emagrecer menos natural tende a ser o processo. O raciocínio aqui é simples: Se o corpo demora um certo tempo para engordar, em decorrência do acúmulo de gordura, deve-se esperar tempo similar para que este naturalmente desestruture, consuma e elimine estes mesmos depósitos. Se tal processo for acelerado, deve o paciente ser cuidadosamente acompanhado e seu corpo adequadamente suplementado por hábitos saudáveis de vida que permitam a este suportar o stress a que será submetido: Sim, emagrecer gera stress e pode ser fonte de doenças se não for feito adequadamente;
Erro 4: Fórmulas “mágicas”
“Anfetaminas”: Anfepramona e Femproporex não são anfetaminas MAS subprodutos destas e agem essencialmente como elas: Acelerando o metabolismo, inibem o apetite e aumentam a disposição e a queima de gordura… Entretanto, como todo “benefício” pressupõe perdas potenciais, em quantidade significativa de casos o usuário também sofre, com maior freqüência quanto maior for a dosagem ou mais longo o período de uso:
• Ansiedade ou depressão, por vezes em alternância, por vezes associadas a alucinações e até ataques de pânico;
• Perturbações da libido que tendem a evoluir para sua diminuição e até perda completa;
• Taquicardia, palpitação, sudorese, dores estomacais, boca seca, perturbações do sono, dificuldade de concentração… A lista de efeitos colaterais é imensa e freqüentemente observável;
• Piora na absorção de medicações por via oral (anticoncepcionais, analgésicos, etc.);
• Síndrome de abstinência/tolerância: Dificuldade de abandonar a medicação, sobretudo por sentir angústia, sonolência, dificuldade de raciocínio e, muito comumente, ganho de peso;
A perda de gordura com estas substâncias SEMPRE acompanha-se de perda de proteínas (fundamentais aos músculos), minerais (ossos, cartilagens, sangue), vitaminas, glicídios (são os açucares, que fornecem a principal parcela da necessidade energética do corpo) concomitante. Além disso, não devem ser utilizadas em diabéticos, hipertensos, doentes do coração, desnutridos ou pessoas com carências de nutrientes (por exemplo, na osteoporose, na anemia, nos distúrbios de coagulação, etc.), deprimidos, ansiosos (ou pessoas que tenham tendência para estas patologias).
Por tudo isto, estas substâncias devem ser utilizadas sob julgamento e acompanhamento criteriosos e somente para grandes quantidades de peso a serem perdidas.
Erro 5: Fórmulas “naturais”
Fórmulas “naturais”: Muitas vezes, fórmulas são prescritas ou divulgadas como “naturais” simplesmente por conterem fitoterápicos (medicações à base de plantas). O que acontece com freqüência, entretanto, é a colocação na fórmula de substâncias químicas sintéticas como anfepramona e femproporex (já discutidos acima), diazepan ou bromazepan (calmantes), tiratricol (similar químico ao hormônio da tireóide), fluoxetina (antidepressivo), entre outros. Associados a cáscara sagrada, glucomanan, centella asiática, garcínia, estes últimos realmente à base de plantas. Desta forma, perdeu-se o caráter “natural”da fórmula o que faz dela um coquetel de substâncias que, pelo menos pelo lado químico, agem diretamente no cérebro. Por outro lado, difundiu-se a noção de que plantas, “se não fazem bem, mal não fazem”; isto é errado e MUITO PERIGOSO! Fitoterápicos devem ser prescritos por médico competente, ciente dos efeitos destes e, sobretudo das suas indicações, contra-indicações e efeitos colaterais (que estes também possuem). Sendo assim, cuidado com fórmulas ditas naturais: Pedir para seu médico, por exemplo, explicar o que cada componente da fórmula faz é um bom começo… Afinal de contas, é VOCÊ quem irá tomar a medicação, não?
O que funciona
Emagrecimento saudável: Conforme já exposto e comprovado em artigos anteriores, NÃO há emagrecimento saudável ou peso mantido sem que se adote hábitos saudáveis de vida:
• Ingerir água e fibras adequadamente;
• Comer de 2 em 2 horas (No máximo de 3 em 3 horas);
• Praticar exercícios físicos regularmente.
Quem abre mão destes conselhos…
• Ou não emagrece;
• Ou volta a engordar;
• Ou está optando por depender por toda a vida de remédios para manter a aparência, irreal, de saúde.
A não observância das sugestões acima faz mal à saúde; mesmo porque peso ideal NÃO é por si só um indicativo de corpo e mente sãos, por mais que a busca obsessiva pela boa forma possa tentar promover. Mais ainda: Persistir nos “erros” pode até ser parcial ou totalmente ineficaz à perda de peso e, a médio e longo prazo, desnecessariamente oneroso.
Vale a pena pensar nisso e optar pela SAÚDE; em primeiro lugar… Sempre!